Lula faz autocrítica pela metade: “Petrobras não é com ele? Quem nomeou essa gente toda?”
Durante mais de uma hora de discurso, recheado de apartes de senadores da oposição e aliados do governo, na tarde desta quarta-feira (24), o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) disse que o ex-presidente Lula não pode se descolar da imagem da criatura que ele ajudou a colocar no poder – a presidente Dilma Rousseff.
Em recentes declarações reproduzidas na imprensa no fim de semana, o ex-presidente disse que sua sucessora “está no volume morto”, e o PT, abaixo disso. Já em evento na segunda-feira (22), Lula declarou ainda que não sabia se o defeito era do partido ou do governo. “O PT perdeu a utopia”, e declarou que correligionários “só pensam em cargo, em emprego, em ser eleito”.
Aloysio destacou que o ex-presidente “faz uma autocrítica pela metade”, já que não se coloca como alvo pessoal da crítica. “É como se a coisa decorresse da invenção dos outros, como se ele não tivesse nada a ver com os desacertos da presidente Dilma, que ele mesmo patrocinou. Petrobras não é com ele? Como? Quem nomeou essa gente toda?”, indagou.
Ao citar reportagens em que o ex-presidente é citado por um dirigente de empreiteira como “Brahma”, o tucano questiona o suposto apelido. “Brahma, não! Ele, hoje, é Vega Sicilia, é Chateau Petrus (nomes de vinhos raros)! Só viaja em jatinho particular. É viciado em poder, não sabe viver fora disso. E procura se colocar agora como uma espécie de reserva política do PT para 2018.”
Nota
Aloysio também citou a nota dos senadores do Partido dos Trabalhadores, em solidariedade à Lula, mas que não cita em uma linha sequer a presidente Dilma. “Não disseram uma palavra. Falaram de uma campanha de desconstrução do prestígio do presidente Lula, mas não criticaram a obra de desconstrução dele (Lula) sobre a presidente Dilma”, disse o senador.
O senador também declarou que as palavras do líder-mor do PT são mais devastadoras “do que 10, 20, 30 discursos” da oposição, e que, há uma justificativa para isso. “(Os senadores) têm esperança de que ele seja o salvador do partido em 2018. Ora, todas as pesquisas mostram que vão juntos para o buraco todos eles.”
Ainda sobre a nota, Aloysio questionou o “projeto nacional popular” citado pelos senadores petistas. “Qual foi a grande transformação que o Partido dos Trabalhadores fez na estrutura tributária do nosso País, por exemplo?”, questiona, para depois lembrar que o que sobra ao partido é o projeto de se manter no poder.
O tucano lamentou por aqueles que ainda acreditavam que a legenda seria algo diferente disso. “Eu tenho certeza de que muita gente do PT – e não apenas a mocinha que sonhava com Che Guevara e acordou nos braços de Vaccari – acredita sinceramente que um partido de esquerda veio para governar e fazer transformações.”
Dilma
Sobraram ainda críticas à presidente Dilma Rousseff. Para Aloysio, ela demonstrou em discurso realizado nesta terça-feira (23), na abertura dos Jogos Indígenas, estar perturbada com os últimos problemas no país, como o pedido de explicações do Tribunal de Contas da União sobre as pedaladas fiscais, ou a inflação beirando os 9%, muito acima do teto da meta de 6,5%.
Na ocasião, Dilma citou a existência de uma nova subespécie: a mulher sapiens. “É verdade que o auditório recebeu a notícia com algum constrangimento, que, rapidamente, transbordou para uma ligeira hilaridade”, citou o senador, para depois lembrar mais uma frase da Presidente da República que causou risos, ao alardear serem os brasileiros os “responsáveis por uma das maiores conquistas da humanidade, que é a mandioca.”
Da ironia à tragédia: Aloysio lembrou à presidente que o Brasil sequer é o maior produtor mundial da raiz, posto hoje ocupado pela Tailândia.
O discurso de Aloysio provocou um debate sobre a economia e a situação do governo, que teve participações dos senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Tasso Jereissati (PSDB-CE), enquanto os petistas Gleisi Hoffmann (PR), Humberto Costa (PE) e Donizetti Nogueira (TO) tentavam justificar o injustificável: as mentiras da presidente Dilma nas últimas eleições, quando dizia que não faria ajuste na economia, para realizá-lo logo depois de assumir o poder.